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INTRODUÇÃO

Observação inicial: “Esse trabalho escatológico (doutrina das Últimas Coisas) fora feito não para teólogos, mas para leigos e estudantes da bíblia poderem conhecer os ramos da escatologia cristã. Porém, se o leitor ainda não sabe nada de bíblia ou teologia, sugiro que leia outros trabalhos e artigos oferecidos por esse site; porque escatologia é a última coisa a ser estudada dentro da teologia sistemática, devido as muitas divergências”.

Desde muito tempo, o homem se preocupa com os últimos dias (escatocronia), o que não é diferente no meio cristão. Devido a tantas idéias apresentadas nessa época sobre o assunto, veremos quais são as idéias cristãs sobre os últimos dias.

Basicamente e sem aprofundamento, veremos as idéias sobre o milênio e sobre a tribulação, questões mais discutidas na escatologia cristã.

Como estudioso da teologia, já estive lucubrando sobre o assunto, mas percebi que, o homem é existencialmente necessitado de uma teologia que vai ao encontro de sua necessidade básica. Por isso é bom conhecermos o assunto, mas não podemos estacionar aí, nosso desafio teológico vai além do futuro escatológico, e por incrível que pareça é nosso presente.

DESENVOLVIMENTO

1. Conceitos Milenistas

Encontramos na bíblia em Ap.20:2 o registro de que Satanás será preso por mil anos, (é claro que referência bíblica sobre esse tão discutido milênio é mais abrangente). Porém devemos entender que essa discussão gira em torno desses mil anos, onde alguns crêem que haverá paz devido à prisão de Satanás. São quatro, as correntes escatológicas que tentam explicar a significação do milênio: Premilenismo Histórico, Premilenismo Dispensacionalista, Pós-Milenismo e Amilenismo. Veremos um pouco de cada, superficialmente, levando em conta que o assunto é hiper-complexo e abrangente.

1.1 Premilenismo histórico

Essa corrente escatológica também é denominada Premilenismo Clássico e Não–Dispensacional.

O Premilenismo Histórico é conhecido como clássico porque fora a interpretação escatológica principal nos três primeiros séculos, em que os padres Papias, Irineu, Justino Mártir, Tertuliano e outros apoiavam essa interpretação.

É sustentado que Cristo voltará e haverá um período de paz, justiça e gozo, no qual a própria pessoa de Cristo reinará por sobre a Terra. O arrebatamento e volta de Cristo é interpretado como um evento único. Antes desse “milênio”, haverá sinais que demonstrarão a volta de Cristo.

Alguns proponentes dessa interpretação escatológica são: George Ladd, J. Barton Payne, Alexander Reese, Millard Erickson e outros.

Essa corrente sustenta que a atual Igreja é o Israel espiritual, mas Deus restaurará a nação israelita, pois para ela há promessas no milênio; para provar essa restauração é usado Rm11(vide). Crêem que, após a segunda vinda de Cristo, Satanás será preso, haverá a chamada primeira ressurreição e Cristo reinará no milênio; é usado como prova disso Ap.10:20(vide), no qual relata tais acontecimentos. Argumentam que, o Velho Testamento e Cristo disseram a respeito do governo do Ungido, sendo usado Sl 2(vide) como respaldo bíblico. Usam somente a literatura apocalíptica para provar a literalidade do milênio, visto que as escrituras veterotestamentárias não têm texto algum que relata um período literal de mil anos.

Basicamente, é tudo isso que os premilenistas clássicos crêem, não são profundos em sua teologia escatológica.

1.2 Premilenismo Dispensacionalista

Essa é a corrente escatológica mais complexa. Quem a esta se posicionar e quiser aprofundar será necessários anos de pesquisa e árduo estudo.

Antes de entendermos basicamente os pontos sobre o milênio defendido pelo dispensacionalismo, vejamos um pouco sobre a história desse pensamento e suas características.

A teologia dispensacionalista é centralizada na escatologia, sendo depositária de uma hermenêutica literal que parte do Antigo Testamento para o Novo Testamento. Por defender a inerrância das escrituras (fundamentalismo), hoje o dispensacionalismo é a linha teológica defendida pela grande maioria dos evangélicos das Américas.

O padre Emanuel Lacunza (1731-1801) fora o primeiro a separar a idéia do arrebatamento da idéia da volta de Cristo, ou seja, sempre a Igreja defendeu que o arrebatamento e a segunda vinda são o mesmo evento, até esse padre lançar essa proposta, no Chile. Porém essa idéia surgiu por motivos políticos. Quando Lacunza fora expulso do Chile, escrevera na Itália um livro com suas idéias pré-tribulacionistas, no qual defendia que, o intervalo entre o arrebatamento e segunda vinda era de 45 dias. Logo após, surge Eduard Irving dizendo que, esse intervalo era de 3 anos e meio. Em 1827, Darby, que era anglicano, abandona sua igreja e se membra a Igreja dos Irmãos. Começou a estudar o Antigo Testamento e já conhecia os escritos do padre Lacunza. Em 1830, Darby visita uma congregação, em que uma adolescente de 15 anos, Margareth Macdonald, profetiza que o intervalo entre o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo seria de 7 anos. Margareth Macdonald faleceu com 29 anos, e segundo o atestado de óbito, ela era insana mental. Após isso, parece que Darby adotou essa idéia de 7 anos de intervalo; publicou 40 livros expondo suas idéias numa linguagem fundamentalista, o que lhe deu proeminência.

Bem resumidamente, essa é a história do dispensacionalismo. Os adeptos do Premilenismo Dispensacionalista, sustentam a existência de um arrebatamento, em que 7 (sete) anos depois, período da grande tribulação, virá o milênio. Para essa linha escatológica, há uma distinção histórica e bíblica entre Israel (Povo escolhido) e Igreja. No milênio Cristo reinará na Terra - isto visto fazendo uma leitura literal de Ap.19-20(vide). Encontram bases bíblicas no Velho Testamento para o milênio, usando uma hermenêutica ora literal, ora alegórica, ora tipológica, ora simbológica.

Basicamente, o Premilenismo Dispensacionalista difere do Histórico na questão dos eventos, pois os históricos ou clássicos defendem arrebatamento e segunda vinda como evento uno, já os dispensacionalistas separam os eventos. Eu disse “basicamente” nessa questão, pois o Dispensacionalismo é muito mais amplo que essa questão de evento, envolvendo profecias de Daniel e todo um encaixe do Velho no Novo Testamento.

Alguns proponentes dessa corrente escatológica são: Darby, Scofield (autor da primeira bíblia evangélica com notas de rodapé), Lewis Sperry Chafer; John Walvoord, Charles Feinberg, Herman Hoyt, Harry Ironside, Eric Sauer, Charles Ryrie e outros, como muitos fundamentalistas.

1.3 Pós milenismo

Essa corrente defende que, através de missionários, de evangelizações, pregações, etc, o reino de Deus está se estabelecendo aqui na Terra, e o resultado será que, Cristo governará nos corações dos homens, sendo isso o reino de Deus, o governo do Senhor nos corações e não na política. Crêem que todos converterão, inclusive os judeus, antes da volta de Cristo (São bem otimistas!). O milênio acontece quando os homens em geral entregam suas vidas à Deus, havendo automaticamente paz e justiça sobre a Terra. Afirmam que, o governo de Deus sobre o coração do homem é um tipo de milênio; usam Jo14-16(vide) para mostrar essa suposição. Após todos crerem (espécie de universalismo), que será o milênio, virá a parousia, que é a segunda vinda de Cristo. Crêem que os salvos ultrapassarão em quantidade os perdidos. Devido esse otimismo exagerado, que resulta em uma espécie de universalismo, essa linha escatológica tem aparentemente alcançado mais adeptos nos círculos contemporâneos, apesar de que as duas grandes guerras mundiais quase destruíram esse ponto escatológico por, afirmar que a era presente é o milênio. O pós-milenistas não entendem o milênio de forma literal, ou seja, período de mil anos, mas vêem o milênio como um grande período de paz.

É bom entendermos, que há vários tipos de pós-milenismo, havendo diferenças nos detalhes e nas afirmações. Alguns de seus proponentes foram Agostinho, Loraine Boettner (principal proponente), A Hodge, Charles Hodge, A. H. Strong, B.B. Warfield, Joaquim de Fiore, Daniel Whitby, James Snowden, os reconstrucionistas cristãos e outros teólogos.

1.4 Amilenismo

Esse é o mais simples e o mais claro de todas correntes, pois simplesmente nega a existência de um milênio futuro, ou de um reino milenar de paz e justiça.

Há um crescimento diário tanto do bem como do mal entre a primeira e segunda vinda de Cristo. O reino é manifestado pela Palavra e por isso já se faz presente em nosso meio, mas há ainda no mundo muita injustiça e maldade, então Cristo virá pela segunda vez (parousia) e logo já haverá a ressurreição de todos e o julgamento final. Todos esses eventos seguirão em seqüência rápida. Para defender essa posição, a hermenêutica deve ser simbólica, não literal, ou seja, o milênio sugerido em Apocalipse não é literal, é um símbolo, algo comum na literatura apocalíptica.

As profecias bíblicas não são tão literais como os dispensacionalistas crêem, sendo assim elas já se cumpriram na história ou ainda poderão ser cumpridas no “local” onde os salvos ficarão.

Como os amilenistas crêem que haverá a segunda vinda tendo o juízo de todos, eles automaticamente não fazem distinção entre judeus e Igreja. O plano de Deus para humanidade é único e se cumprirá em todos. Sendo assim, o Velho e Novo Testamentos estão unidos sob a aliança da graça, no qual Jesus é a grande revelação. Seria incoerente esperar um reino futuro sendo que o reino de Deus sempre existiu e fora manifestado por várias pessoas e ministérios.

A hermenêutica usada pelos amilenistas, ao contrário dos dispensacionalistas, procuram levar a sério a natureza literária de cada texto bíblico, sem deixar de lado o pano de fundo histórico. Rejeitam assim a interpretação literal das escrituras, procurando fazer exegese dos textos em questão.

Não podemos deixar de salientar que os detalhes dessa corrente, como de outras, podem mudar de teólogo para teólogo devido a outras posições teológicas que influenciam na escatologia.

Alguns proponentes são: Oswald Allis, Louis Berkhof, G. Berkower, Willian Hendricksen, Abraham Kuyper, Leon Morris, Anthony Holkema, outros teólogos reformados e a Igreja Católica Romana.

Logicamente, as correntes escatológicas sobre o milênio vão um pouco mais além, principalmente a dispensacionalista, porém aqui estão as informações principais e básicas.

2 Conceitos Tribulacionistas

Essa é a discussão sobre o evento falado principalmente no dispensacionalismo, que é a chamada “grande tribulação” e a segunda vinda de Cristo (parousia). Há os que afirmam que haverá um período, em que uma tribulação mais enérgica e ativa assolará sobre a Terra. Dentro dessa questão há basicamente três linhas que são: pré-tribulacionismo, meso-tribulacionismo ou mid-tribulacionismo e pós-tribulacionismo. Disse a palavra “basicamente” porque há outras posições como o conceito do Arrebatamento Parcial e Pós-Tribulacionismo Iminente, porém são pouco discutidos.

A grande discussão é se a Igreja (cecaishl) passará ou não por essa turbulenta tribulação. É bom salientarmos que, os amilenistas não se preocupam com essa discussão, visto que terá a parousia, mas sem milênio e sem tribulação. Poderíamos dizer que a discussão em torno de uma tribulação fica preso nos milenistas, mas principalmente nos dispensacionalistas.

2.1 Pré-tribulacionismo

Resumidamente essa linha escatológica defende que Cristo virá buscar seus santos, a Igreja, isso seria o chamado “arrebatamento”, depois Cristo virá para reinar no milênio, esse é chamado de “revelação”.

É chamado de Pré-tribulacionismo porque crêem que a Igreja será tirada antes da grande tribulação, ou seja, Cristo tirará os crentes do mundo através do arrebatamento, sendo que os salvos não passarão pela grande tribulação, que é uma tribulação especial, diferente da vivida no mundo de hoje.

Essa grande tribulação tem como propósito terminar com a era cronológica dos gentios, no qual parte será arrebatada (os salvos) e parte sofrerá na tribulação. Também essa tribulação tem como propósito preparar os judeus para a restauração no milênio, governado por Cristo. Lembre-se que os dispensacionalistas crêem que há um tratamento diferente entre dois povos: judeus e gentios, visto que Deus fez uma aliança com Israel e que ainda se cumprirá nessa era escatocrônica. Seria incoerente os cristãos passarem a grande tribulação devido esses propósitos, ou seja, o propósito da grande tribulação é preparar a conclusão do plano geral de Deus para a humanidade, e não purificar ou testar a Igreja. Usam I Ts1:10 (vide) para provar a isenção da Igreja na tribulação. Ap. 3:10(vide) também é citado como argumento bíblico. Argumentam que não há menção à Igreja à partir de Ap.4 (vide), pois esta fora arrebatada.

Acreditam que Cristo voltará a qualquer momento para buscar sua Igreja, isso literalmente. Usam muitos argumentos bíblicos (Rm8: 19-25; ICo1:7; Fil4:5; Tt2:13; Tg5:9; Jd21: I Ts4:18; etc), porém numa óptica bem literalista e fundamentalista.

Já fora citado no tópico “Premilenismo Dispensacionalista” que esses crêem numa tribulação de sete anos, em que três anos e meio serão de paz aparente e três anos e meio de pertinaz perseguição. Isso baseado em Dn.9:27(vide), em que a semana ali apresentada é interpretada por sete anos. Na metade final desse sete anos virá o assolador, daí será o pior momento da grande tribulação.

Portanto sobre essa corrente podemos dizer que, há duas voltas de Cristo. A primeira volta de Cristo será para arrebatar a Igreja e a na segunda Cristo volta com a Igreja para iniciar seu governo no milênio, no qual a pessoa de Satanás será preso no abismo. Há também, nessa corrente, três ressurreições. A primeira será um pouquinho antes do arrebatamento, no qual a bíblia diz que “os mortos ressuscitarão primeiro”, a segunda ressurreição será quando Cristo voltar pela segunda vez no final dos sete anos da grande tribulação, será a ressurreição dos cristãos salvos que morreram nessa perniciosa tribulação, e a terceira ressurreição será após o milênio. Tudo indica que, os que estiveram incluídos na terceira ressurreição serão condenados (Nem todo dispensacionalista crê nessa vertente).

Esse pensamento escatológico é praticamente uma “colcha de retalhos”, ou seja, é muito complexa e extensa; o que vimos aqui é somente o básico dessa doutrina, se desejas aprofundar mais, sugiro o livro “O Dia do Senhor” de autoria do professor “Antônio Carlos Gonçalves Bentes”.

Alguns proponentes dessa escatologia são: John Walvoord; J.Dwight Pentecost, John Feinberg, Herman Coyt, Charles Ryrie, Rene Pache, Henry c. Thiessen, Leon Wood, Hal Sindsay, Jonh Sproul, Richard Mayheu e outros como boa parte dos fundamentalistas.

2.2 Meso-tribulacionismo

Essa posição escatológica crê que, a Igreja irá presenciar parte da grande tribulação, porém quando a tribulação começar, aquela será removida da Terra, havendo uma ausência de crentes salvos no planeta. Essa linha também sustenta a existência futurista da grande tribulação em sete anos, baseados também no texto de Daniel. Crêem que a ira de Deus será derramada na segunda metade da tribulação, após o arrebatamento da Igreja. Com base em Mt 24 e Mc 13(vide) dizem que, parte dessa tribulação será abreviada devido a permanência dos santos, que é a Igreja do Senhor. Interpretam Rm 5:9(vide) literalmente, no qual diz que seremos salvos da ira, ou seja, os cristãos não passarão pelos três anos e meio final que é a “ira de Deus”. O mesmo acontece com I Ts 1:10; Mt 3:7; Lc 3:7(vide), porém nesses textos a expressão em foco é “ira vindoura”.

A escatologia mid-tribulacionista (mid ou meso) difere da pré-tribulacionista no que se refere à Igreja durante a primeira metade da grande tribulação, porém crêem também no milênio e fazem uso da hermenêutica literal.

Apesar dessa linha escatológica ser menos defendida, alguns de seus proponentes são: Norman harrison, J.Oliver Buswell, estes diferiram um pouco numa questão terminológica, pois Buswell nomenclava a primeira metade da grande tribulação como sendo a “ira de Deus”, já Harrison disse que, João chamou os primeiros três anos e meio de “doce” e a segunda metade da grande tribulação de “amarga”. Há outros preponentes como: Gledson Archer, Merrill Tenney e outros.

2.3 Pós-tribulacionismo

Essa posição é bem abrangente, permitindo subdivisões dentro de si, como: clássica, semiclássica, dispensacional, futurista. Essa linha será vista por nós aqui dentro do premilenismo, pois poucos milenistas de outra linha interpretam a grande tribulação literalmente. Isso faz com que esses adeptos não se preocupem com essa discussão. Os pós-milenistas costumam ser pós-tribulacionistas, apesar de não crerem numa tribulação de sete anos, porém encaram as tribulações do mundo cotidiano como uma tribulação escatológica; os premilenistas históricos também podem se encaixar no pós-tribulacionismo, mas não separam a vinda de Cristo em dois eventos, como fazem os dispensacionais. A linha mais complexa é a premilenista dispensacional, pois apesar da maioria ser pré-tribulacionista, há os que defendem tanto o meso como o pós-tribulacionismo.

Essa vertente escatológica chama assim por afirmar que, os crentes salvos vivos serão “arrebatados” no final da grande tribulação, por ocorrência à segunda vinda de Cristo. Há pós-tribulacionistas que não mencionam a palavra arrebatamento ou transladação, apesar de crerem que Cristo voltará após a tribulação. O pós-tribulacionismo dispensacional crê que essa tribulação será de sete anos, mas o pós-tribulacionismo que também são pós-milenistas não crêem na tribulação de sete anos literal.

Os adeptos dessa escatologia, diferem “tribulação” e “ira de Deus”, pois a tribulação será experimentada por todos, já a ira de Deus visará os ímpios, no qual os filhos de Deus serão poupados; usam para provar isso o verso 10 de Ap.3(vide), no qual o Senhor promete nos guardar da hora da provação.

Crêem em duas ressurreições, em que a primeira será de todos os mortos salvos. Esse evento será no início do milênio.

Enquanto os pré-tribulacionistas têm esperado o arrebatamento literal da lgreja, livrando-os da grande tribulação, os pós-tribulacionistas têm esperança de que, mesmo havendo uma tribulação especial, Deus estará os guardando e no seu tempo terminará com tudo, ou seja, esperam a segunda vinda, que será no final da tribulação escatológica.

A respeito do reino de Deus, essa linha escatológica é mais eclética, pois há os que como os pós-milenistas crêem que o reino de Deus está presente nos corações dos homens e há os que como os premilenistas, acreditam num reino futuro e celestial.

Para alguns pós tribulacionistas, a Igreja será arrebatada após a grande tribulação em seguida já voltará imediatamente com o Senhor para a Terra.

Os adeptos dessa corrente não são tão literais como os dispensacionalistas pré-tribulacionistas, por isso não fazem distinção de estágios como: manifestação, revelação, parousia, o dia do Senhor, etc...

Como já disse, essa linha é eclética, pois se o pós-tribulacionismo for dispensacional, defenderá a grande tribulação de sete anos, o arrebatamento e a futura morada celestial; se for pós-milenista, Jesus voltará encerrando a tribulação e também o milênio, que ambos não têm tempo determinado; nesse último, o arrebatamento é praticamente ignorado por muitos.

CONCLUSÃO

Antes de mostrar minha opinião, gostaria de falar um pouquinho sobre dois teólogos contemporâneos: Paul Tillich e Rudolf Bultmann, ambos existencialistas. Esses dois teólogos ampliaram minha visão bíblica e hermenêutica, e com certeza, nunca mais minha visão teológica será a mesma depois destes.

O existencialismo é uma ampla visão filosófica, por isso falarei aqui somente sobre a hermenêutica desses dois teólogos. Tillich não desprezava a cultura, a ciência, a filosofia, a sociologia, a história, a psicologia, etc, mas as usava para servir de instrumento em sua teologia. Por isso Tillich usava tanto a história para teologizar, visto que é na história que a verdadeira teologia se manifesta. Bultmann já foi mais além em seu método de interpretação, pois procurava descobrir o que realmente queria expressar os autores canônicos. Para isso interpretava a bíblia não literalmente, mas encarava as escrituras como literatura mítica. Isso quer dizer que os autores bíblicos (principalmente do Novo Testamento) queriam passar uma mensagem, mas essa mensagem era transmitida numa linguagem que fora delineada pela cultura e compreensão intelectual da época, ou seja, a mensagem era transmitida de forma figurada, por isso é mítica. Queria então dizer que a realidade do mundo “espiritual” foi escrita em linguagem figurada retirada desse mundo. Bultmann não negou as escrituras, mas as reinterpretou através de uma demitização, ou seja um método hermenêutico, no qual devemos descobrir qual é a mensagem do autor, separando as questões culturais da época, da mensagem real que o autor desejava transmitir. Bultmann entendeu que, a mente dos autores canônicos era mitológica e não científica. Paul Tillich certa vez propôs para Bultmann a expressão desliteralização ao invés de demitização. Ambos teólogos procuravam interpretar a bíblia sem desprezar a ciência e a filosofia, principalmente a existencialista.

Acho muito interessante a hermenêutica desses teólogos, pois através dela veremos que a bíblia é mais ética e Deus se preocupa mais com o homem do que pensávamos antes, através de uma interpretação literal.

Procuro analisar a teologia sem desprezar a história, o homem, a ciência, a filosofia e principalmente a hermenêutica e a exegese, por isso não concordo com as doutrinas dispensacionalistas, pois são literalistas, fazem uso exagerado de alegorias e tipologias; estes, pegam um texto de Daniel, interpretam-no literalmente e o comparam com textos de apocalipse e outros livros. Tudo isso, desprezando técnicas hermenêuticas, pano de fundo histórico, crítica textual e qualquer outro instrumento para interpretação de textos. Não me preocupo em estudar o dispensacionalismo devido essas características da doutrina. Segundo o Pr. Antônio Carlos Gonçalves Bentes, mestre em Teologia Sistemática e Escatologia (esse foi meu professor no curso de teologia), na década de 80 os dispensacionalistas eram 80% dos evangélicos do mundo, e esse número com certeza aumentou; isso mostra o quanto a Igreja ainda é fundamentalista e precisa conhecer melhor outros pontos teológicos.

Apesar do pós-milenismo parecer um pouco em alguns pontos com o amilenismo, me identifiquei melhor com o amilenismo, visto que as interpretações usadas para provar uma “grande tribulação” é literal e que o texto principal para defender a existência de um milênio está em Apocalipse, e sabemos que esse livro não pode ser interpretado de maneira nenhuma literalmente, pelo contrário, a literatura apocalíptica é de difícil análise devido seu caráter enigmático e ninguém pode dizer com certeza qual é a mensagem que autor apocalíptico queria passar. Se alguém talvez entendeu a mensagem de Apocalipse, foram os cristãos da época, qualquer significado verdadeiro perdeu-se na história. Apesar disso, creio que esse livro trate de aspectos políticos da época. Interessante que tanto o livro de Apocalipse como Daniel começam com uma linguagem compreensível, mas de repente adquirem caráter figurativo e enigmático. Também é percebido que, ambos autores dos livros citados viviam em contexto de crise, um estava inserido num contexto de exílio babilônico, outro preso numa ilha, no qual a Igreja passava por uma grande perseguição (tudo indica que fora a perseguição movida por Domiciano). “Talvez”, ou “tudo” indica que tais autores escreveram algo especificamente destinado ao contexto da época, por isso acho perigoso e arriscado crer em algo que ninguém sabe por certo qual é a verdade ou o significado genuíno.

Resumindo minha posição escatológica atual, para crer numa grande tribulação, num arrebatamento e no milênio, tenho que interpretar a bíblia literalmente, por isso não acredito que haverá um arrebatamento, milênio, nem uma tribulação especial. É impossível alguém que possui uma mentalidade científica crer que de repente as pessoas serão transladadas, sendo retiradas da Terra para um céu. Essa doutrina do arrebatamento parece estória de quadrinhos, pois ela foge totalmente do âmbito da natureza. Creio que a alta crítica, a exegese e a hermenêutica bem aplicada revelam o mito que é essas crenças dispensacionalistas e fundamentalistas. Há muita especulação nessa área, o que brota um sentimento místico no coração dos cristãos. Isso é perigoso e muitas seitas e práticas místicas e míticas tem surgido devido essas especulações. Devemos ter humildade e aceitar que há coisas misteriosas (misterium) para o homem, ou seja, oculto à nossa razão. Para mim, o teólogo pós-moderno deve ter coerência em suas posições, ou seja, devemos ter em mente que a bíblia fora escrita num período em que os mitos delineavam as mentes, diferente de hoje que sabemos que o mundo gira em torno de uma natureza (Feuerback). Assim, é incoerente para mim apoiar idéias mitológicas, pois essas não engrenam com o pensamento contemporâneo/científico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MILLARD, Erickson. Opções Contemporâneas na Escatologia. Tradução Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1986.170p.

HOUSE, Wayne. Teologia Cristã em Quadros. Tradução João Bentes e Gordon Chown. São Paulo: PES, 1992.p.233-243.

GILLIS, Christian. Roteiro de Aulas de História da Igreja. 3ed.2000.p.37-38.